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domingo, 17 de fevereiro de 2008

Hospital de bonecas


Numa época em que as coisas não eram descartáveis, existia na cidade dela uma oficina de brinquedos. Toda vez que um deles quebrava, bastava ligar pro hospital e um doutor de guarda-pó branco ia buscar o paciente, diminuindo a inquietação dos pequenos.
Ela não era especialmente cuidadosa com as filhas, costumava carregar as bonecas pelo braço, o que levantava sérias dúvidas quanto ao seu instinto materno. Mas uma coisa lhe tirava o sossego: quando os olhinhos delas insistiam em ficar fechados, mesmo quando estavam de pé. Não dava pra brincar que era dia, porque a boneca sempre dormia. Nesse caso, o único jeito era apelar pro hospital de bonecas, que era como ela costumava chamar a oficina.
As vezes parece que os olhos da alma dela estão avariados, com os mesmos sintomas dos das bonecas - sempre fechados, no máximo semi-abertos. Nessas horas, ela não consegue ver com clareza, e a incerteza a deixa esquiva e desconfiada. Assim, cerra as janelas e tranca as portas, deixando algumas vezes o coração do lado de fora.
Hoje em dia não existe mais o hospital e ela sente falta da segurança das certezas daquele tempo.

Imagem: http://www.putacore.zine.vilabol.uol.com.br/boneca.jpg


1 comentários:

Liz disse...

amei o blog xD