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terça-feira, 15 de abril de 2008

O senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal *?

(Kurt Halsey)


Quando ela era bem pequena, os pais dela tinham um sítio, nos finais de semana iam todos para lá. Ela achava tudo encantado, gostava de pensar que a chácara dela era parente próxima do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Existia um pomar enorme que ela amava desbravar, calçada com as suas botas sete léguas amarelas (a insistência na cor pode parecer defeito no texto, mas fazer o que? a realidade por vezes se repete). Bom, é verdade que havia um problema, ela embora peralta era novinha, e algumas árvores eram bem altas, resultado, logo fez amizade com as jabuticabeiras.
Tinha também um córrego, onde ela pescava girinos com copos de vidro transparente. Ela dizia que eram peixinhos e ficava intrigada porque a mãe não deixava mais os copos que ela usava junto dos outros, dizendo que tinham ficado sujos. Mas como podiam ser sujos se eram bichinhos da água? (até que ela descobriu que eles viravam sapos... um cataclismo).
Numa certa feita, o pai viajou, ficaram os três - ela, a mãe e o irmão. O caseiro do sítio, muito falante, começou a contar a história da antiga proprietária, recentemente falecida. Narrava ele, que a senhora gostava muito do lugar, tinha feito o pomar, plantado as flores, escolhido o lugar da casa, e que não tinha tido muito tempo para aproveitar. Por isso ela sempre voltava para visitar o sítio. Todos riram muito e o dia passou. Nessa época, não havia eletricidade na região. À noite, ela, o irmão e a mãe costumavam caçar vagalumes. A mãe, cuidadosamente, amarrava os bichinhos pela cintura com uma linha, numa espécie de fila e depois prendia o comboio no pé da cama (não carece chamar a defesa dos insetos brilhantes e oprimidos porque eles eram soltos depois, quase sempre...). Nessa bendita noite a mãe adormeceu e não soltou os bichos, de madrugada, ela acorda e vê o clarão ao pé da cama, imagina se ela lembrou dos vagalumes....
O tempo passou, o sítio foi vendido, a área que era rural virou urbana.
Dessa época ficaram as histórias e a amizade pelas jabuticabeiras. Três vivem no quintal da casa dela e não a deixam esquecer do tempo das botas amarelas.

* Uma das últimas frases do texto Olhe aqui Mr. Buster...de Vinícius de Moraes.

20 comentários:

Lígia disse...

Gosto de ir pro sítio de vez enquando, tenho parentes no interior do Paraná e o cheiro é outro.. Cheirinho de terra, de café, cheirinho de sítio..
Delícia!

Lígia disse...

Linkei seu blog!
Póoooode?

Narradora disse...

Oi Lígia,
Também gosto...
Linkada, que bom.
Bjs

Ana Cláudia Zumpano disse...

Adorei... me lembrei da época em que eu fiz amizade com um pé de amora e suas moradoras joaninhas! Engraçado, que jabuticaba traz tranquilidade, aqui onde trabalho tem um pé de jabuticaba no fundo, todo café a gente senta lá em baixo, na sombra pra relaxar um pouquinho, e como é bom!!!
bjos ;*

Narradora disse...

Ana,
Ô combinação boa né: intervalo, sombra, café e tranquilidade.
Bjs

Unknown disse...

Eu passei minha inf�ncia nas fazendas do meus tios, era muito bom! Ainda sinto a sensa�o da combina�o: vento + cabelo molhado (banho p/ desencardir) + brincadeiras no balan�o ao final da tarde. Girinos? Nunca me simpatizei com eles. Vagalumes? Criei v�rios dentro dum apontador de caixinha transparente, embora a id�ia inicial de criar um pequeno abajur nunca tenha dado certo...ah, adorei ver meu endere�o ai do lado, t� me sentindo importante! Bjos

Rui Caetano disse...

Muito interessante, sem dúvida.

Ana Laura disse...

Eu adoro esse saudosismo da infância, onde todas as coisas que hoje a nós são banais e corriqueiras, pareciam mágicas e encantadas. É tempo de descobertas, e nada mais instigante do que ser uma criança que vive descobrindo tudo a todo tempo.


Suave, suave. Seus textos parecem uma leve brisa...

Beeijo.

Cin disse...

Daqueles textos que a gente não quer que termine. Uma delicia!

Bjinhos!

Nathália E. disse...

(Odeio quando meu comentário não vai de 1ª)

Voltando:

Lembro da minha infância e fico cheia de saudades.
Saudades do tempo em que brincar era tudo o que se tinha pra fazer. Nada de preocupações com coisas difíceis para resolver.
Bons tempos, rs.

Beijo!

Narradora disse...

Gra,
Adorei o projeto de abajur de vagalumes...rs
Bjs

Rui,
Obrigada pela visita, seja bem vindo.

Nalaura,
Verdade mesmo, tudo é novo...
Eu gosto de lembrar e tenho boas recordações, mas estou satisfeita com o agora, afinal, o tempo presente, é ele o que a gente tem.
Bjs.

Cin,
Obrigada.
Bjs.

Narradora disse...

Nathália,
Engraçado que as minhas lembranças d infância não dão aquela saudade que aperta, são recordações que aconchegam.
Também acho uma chatice quando o cometnário não vai na primeira vez...rs
Bjs.

Letícia disse...

Amiga,

Não tô sendo boazinha, mas seu texto não tem defeito - muito menos por repetir cores. Você tem uma tendência a escrever textos puros que sempre deixam leves os leitores atentos. Sou um deles - sou sua leitora e amiga e agradeço sempre por me visitar. Deixa as críticas ruins para os que não sabem escrever e acham que entendem nossa literatura.

Muitos bjs...

Letícia

Narradora disse...

Amiga Letícia,
Obrigada pela gentileza e pelo
incentivo constante.
Fiquei toda boba de você ser minha leitora...rs
Outros bjs

Marcelo disse...

Hahaha..Mas que coincidência. NA minha casa em Minas tem um enooooooooooooorme jabuticabeira em meu quintal.
Ela tem 50 anos, é linda linda.
E já rendeu vários post inclusive,rs.
Até publiquei fotos dela e tals.
Sim, eu sei o que é ter uma jabuticabeira no quintal e morro de saudades da minha =)

Beijinhos.

Narradora disse...

Oi Marcelo,
Então você podia responder ao poeta que sim, sabe o que é ter uma jabuticabeira no quintal...rs
As minhas são mocinhas ainda... mocinhas lindas. Não são enormes, mas já estão mais altas que eu.
Ultimamente, têm servido de sede pra reuniões de passarinhos.

Bjs

João Neto disse...

Adoro texto assim, simples e com cheiro de infância. Você com esse jeitinho fala muito e muito do que é importante.

Narradora disse...

Olá João,
Também gosto desse cheiro. Obrigada.
Bjs.

Alessandra Castro disse...

Me deu saudade do meu sitio, naum tinha jabuticaba, mas tinha manga e eu sempre subia até o topo com meu pai desesperado embaixo. :D

Narradora disse...

Miss Mary West(formato kid),
Nossa, imagino o desespero do seu pai...rs
Bjs