Já tinha feito isso noutros tempos, mas dessa vez eram malas de encontro, pesadas de alegria e cheias de futuro.
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terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Já tinha feito isso noutros tempos, mas dessa vez eram malas de encontro, pesadas de alegria e cheias de futuro.
sábado, 20 de dezembro de 2008
Mas naquela manhã levantou cedo por vontade e saiu para dar uma volta pelo bairro.
Caminhava devagar, vendo coisas a granel, como na música de Luiz Gonzaga. Algumas construções recém iniciadas, pequenas reformas já no final, mudança nas cores das fachadas e, aos poucos, o que era conhecido ia se transformando.
O mesmo acontecia com ela, ainda que por fora, se mantivesse plácido espelho d'água; por dentro, corredeiras de nunca e sempre, teimavam em buscar sentido morro acima.
Ela apressou o passo e um vento mais atrevido brincou com a saia do seu vestido. Um sorriso aberto, feito sol que inaugura verão, estampou-lhe o rosto.
Era tempo de mudança, logo uma nova estação chegaria, daqui um pouco era outro ano. Como ela não tinha certeza se o vento era de feição - como os marinheiros chamam aquele que favorece o caminho escolhido - decidiu baixar as velas e pegar os remos, afinal, depois de muito tempo ela sabia bem onde queria chegar.
Ilustração: http://frecklefaced29.deviantart.com/art/Silent-Girl-18951127
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Desde pequena tinha afeição por janelas, algumas vezes ficava com o queixo no parapeito e se deixava ali esquecida, tentando adivinhar a vida das pessoas que passavam lá embaixo - sim, porque primeiro ela morou num prédio.
Depois a família mudou pruma casa e ela pulava a janela para chegar mais rápido no quintal, não que fosse longe, era ela que tinha pressa: queria tudo, logo e ao mesmo tempo. Não gostava de escolher... mas se fosse necessário, entre uma porta e uma janela, abriria mão da obviedade objetiva da primeira, e optaria, sem pestanejar, pela sutileza intuitiva da segunda, gostava bem mais desse enquadramento.
Até que um dia colocaram grades nas janelas. "Uma questão de segurança" - foi como o pai explicou. "Uma chatice" - foi o que ela achou.
Mas o tempo passou e ela descobriu novas janelas: os livros, os quadros, as fotografias, os filmes, as músicas, os olhos... cada um de um jeito, todos ricos em possibilidades.
Hoje, depois de muitos dias de sol e poeira, choveu pesado. As pessoas com seus guarda-chuvas, capas e agasalhos coloridos pareciam retribuir a gentileza cinza do céu. Era bonita a cena vista da janela.
Quanto a ela, faz tempo que o queixo ficou mais alto que o parapeito, raramente pula janelas para encurtar caminho, mas continua querendo tudo, logo e ao mesmo tempo.
http://as2pik.deviantart.com/art/Winter-End-II-82454046
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Piegas? Talvez.
Clichê? Certamente.
Mas ela não precisava de uma felicidade inédita e cheia de estilo, envolvida numa complexa construção lingüística, de salto alto e vestido longo.
Não. Era uma mulher normal, vivendo uma alegriavestidodechitaepésdescalços. Toda ela, lugar-comum.
Tinha um amor e naquela hora estava nos seus braços.
E ela falava sobre o clima e lugares, músicas e pessoas, o último filme que viu e suas milhares de teorias sobre tudo.
Com a mão esquecida no seu peito, acompanhava o subir e descer da respiração tranquila e as vibrações das risadas limpas.
Enquanto isso sentia os cabelos afagados com o cuidado de quem cata estrelas.
Naquele momento, canto nenhum do mundo parecia tão dela quanto aquele...
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Do mesmo jeito que é difícil usar salto em areia movediça, é custoso deixar acessível o coração quando ele se transforma em troféu. Ela sabe bem como é ficar com a cara na parede, como aqueles bichos raros: caçados, abatidos e empalhados com olhos vítreos cheios de nada.
Foi por isso a ligação noturna, cheia de álcool, cansaço e esperança.
Disse numa carreira, para não perder a coragem: "Eu não jogo, não gosto do efeito em mim. Quando eu falo sim, eu quero. Umas vezes me arrependo do não. Mas medo, eu tenho mesmo é do se e do quase".
Mas não era hora para você: muito perto, muito rápido e muito certo. Era tanto que assustou e por ser exato, não coube. Virou excesso e portanto, houve resto.
Ela ficou parada ali, na esquina onde se reúnem todos os que tentam. Tomou chá com o tempo, confidenciou com a paciência e olhou a paisagem. Satisfeita com o caminho, levantou e limpou a poeira das roupas - é, poeira é uma coisa curiosa, o pouco que se demora e pronto, ela já mora em você.
Movimento, era disso que ela carecia. Começou a andar, sentir o vento e olhar as nuvens empurrando as horas.
Logo ali na frente, numa esquina dos dias, o seu sorriso. De repente, numa virada de mês, a noite veio e trouxe um beijo. Então o seu tempo chegou e era junto - ela e você, passos entre barcos de papel.
domingo, 26 de outubro de 2008
O barulho do ventilador já tinha virado uma cantilena constante.
Nessas noites quentes tinha dificuldade de dormir, a cama ficava sem encaixe.
Estava suada, a camisola grudada no corpo quente.
Deixou a roupa no chão.
Com o chuveiro todo aberto se abandonou na água, sentindo a pele esfriar devagar. Não se enxugou.
Foi à cozinha... ainda tinha sede.
A luz da geladeira velha, amarelava o chão molhado.
Pegou o celular na bolsa. Estava com sono.
Discou o seu número, mas desistiu; já estava muito tarde, talvez fosse madrugada...
Escreveu uma mensagem curta: Tô com calor de você.
Vestiu-se de perfume e voltou para cama.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Fazia tempo isso não acontecia... mas com ela, o sono, vez em quando, revivia esse costume estranho de se fazer de rogado e balançar os braços, agitando uma tempestade de porques, feito vento forte que levanta poeira.
Parecia claro que alguns dos seus destinos escritos já não eram mais realizáveis. Mas o nunca acendia nela uma fome e abria as comportas que permitiam que a moça de pernas cruzadas e vestido discreto, contivesse em si, as outras tantas que carregava.
Quando se rebelava, em dias insones, pintava as unhas dos pés de vermelho vivo. Ousava não combinar a bolsa com os sapatos. Atravessava a rua fora da faixa. Comentia o delito de pisar na grama.
Mas hoje, estava cansada de cartilhas e caligrafias, cansada pela noite mal dormida e pelos dias em que se deixou presa das expectativas alheias.
Queria sua própria verdade, então, vestiu um decote e saiu pela rua com seus óculos de uma perna só, procurando pistas de si.
Queria mais que um sorriso no portão, afinal ela era de segunda à domingo. Mais que um bilhete, sua vontade era de cartas intermináveis. Desejava a generosidade abusada do excesso.
E então você ao telefone... com voz de banho dá bom dia e chama pra vida.
Amar, isso sim é transgredir.
domingo, 12 de outubro de 2008
Decidiu levantar, estava contrária ao dia...
Os problemas... Ah, para que existe segunda-feira?
Foto:http://cukier-puder.deviantart.com/art/come-fly-with-me-97741647
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
O centro da cidade, em horário de pico, era uma confusão de buzinas e sirenes, vozes e músicas; uma mistura de cores e coisas, propagandas e estilos...
Ela andava apressada, repetindo, quase que a cada passo, "devia ter escolhido outro sapato". O vento seguia brincando com seus cabelos e os ponteiros do relógio apostavam corrida contra as suas pernas.
Finalmente o parque e aquele sorriso estampado que afasta saudade...
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Ela acordou, mas se deixou ficar na cama.
Ainda estava cansada, não o corpo que esticava e encolhia, virando de um lado para o outro...
Talvez fosse uma certa melancolia, um pesar pelo passar do tempo, que fazia tudo parecer mais rápido, mais raro e, umas vezes, mais raso...
Certamente não era amargura, porque dela, só se servia no café: sempre preto, puro e forte...
Então procurou por fora, esquadrinhou o quarto... Definitivamente, não era.
Fuçou lá dentro... Era como uma fome sem saber de quê, uma falta de jeito, um torcicolo de idéia...
Aí tocou uma música e ela totalmente desperta entendeu...
Tava era com solidão de você.
Foto: http://julkusiowa.deviantart.com/art/soft-98124340
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Ela cheia de trabalho e de uma falta de vontade de cumprir obrigação... Na verdade estava no seu mais perfeito modelo de complicação: com vários itens de série, todos os adicionais disponíveis para o seu ano de fabricação e mais aqueles adquiridos ao longo do tempo.
Nesse estado de ânimo, largou as canetas, fechou o editor de textos e foi pro jardim: andar descalça, sentindo a grama quente sob os pés - gentebichosemidomesticado não pode viver em apartamento, simplesmente não cabe.
Então, para acalmar a mente resolveu fazer barulho: com pregos, martelo, suor, tábuas e uma completa falta de jeito, entendeu por bem arrumar o fundo solto da floreira. Dedo amassado, jeans rasgado e já dava para plantar: pedras, terra, água e adubo; medos expostos à luz; idéias e escolhas revisitadas.
No fim da tarde, leve e suja, ela via da janela aberta a chuva que caía pesada e poética sobre as suas cinco gérberas coloridas. Com o cheiro de terra molhada vinha a certeza de que às vezes ela precisava se ver pelo avesso para entender direito o a trazia de volta, impelindo-a a continuar.
Foto: http://lovelywordthief.deviantart.com/art/Spring-96463391
domingo, 14 de setembro de 2008
Uma melancolia a invade sempre que o dia de domingo vira noite, assim, quando começa a escurecer com passarinho cantando, dá nela uma espécie de banzo, mas sem ser... não é ruim, só um sinal que ela está ficando de tardinha. Por outro lado, manhã de domingo é quase uma festa, se tiver sol então, ela coloca música e vira flor... descalça na grama a vida fica mais simples.
Hoje foi assim, manhã no jardim com vestido de algodão, sol, azul, passarinho e brisa.
Era nesse cenário que ela queria que você entendesse que o amor só sabe ser inteiro e grande, pode até chegar em pequenas porções: num olhar que se reconhece, num conjunto de gestos que aproxima, num tom de voz que acalenta, num cheiro que chama... mas nem se engane, amor vem com autoplay, sozinho se monta e de peças vira todo.
Garantias, prazo, manual... não tem não; mas durável ou não, ele é quase eterno, que nem luz de estrela que continua caminhando depois que ela já foi. Um estado assim novo - de sítio e de graça - assusta que arrepia, mas num sopro, dá alma.
Se você estivesse ali, se fosse parte daquela manhã, veria no sorriso dela o encantamento que provoca.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Piscou várias vezes... Faltou ao trabalho. Usou colírio... Fechou as cortinas. Por fim, marcou uma consulta.
Exames físico e complementares... inconclusivos.
Nada errado, foi o que o médico disse, entregando a receita - um colírio e um calmante.
Ela conhecia um outro tipo de falta de visão: Já ficou cega de raiva, tropeçando em sonhos desperdiçados e arremessando palavraspedra; cega de paixão, tateando paredes de castelos feitos de nuvens e vento; já fechou os olhos com força para não enxergar o que não queria, numa espécie de cegueira voluntária; e já foi incapaz de ver o que estava bem na sua frente, num tipo de ingenuidade instrumental. Mas em todos esses casos ela via com os olhos, era a razão que estava obliterada. Agora não, o mundo parecia nublado.
Desanimada pegou outro táxi, queria ir para casa...
O motorista - um senhor que parecia muito idoso para dirigir - puxou conversa. Taí uma coisa que ela não tinha a menor vontade de fazer naquele momento, conversar. Então se limitou a ouvir, soltando de vez em quando um aham, um sei, ou um imagino.
Quando estacionou o carro na porta da casa dela o senhor perguntou:
- Vista ruim?
Ao que ela respondeu com outro aham.
- Coração úmido embolora as vistas - foi o que ele disse enquanto dava partida no carro.
E de repente ela tinha pressa.
Abriu devagar, gaveta por gaveta, sem sucesso... Em desalento, mas ainda segura por um fio de esperança, abriu a última e foi lá que encontrou, guardado bem no fundo, junto com outras coisas antigas e usadas, o coração, que um dia tinha tirado do peito.
Com cuidado, colocou-o de volta no lugar - certas coisas não devem ficar em gavetas.
http://bellemagie.deviantart.com/art/Paper-Heart-59217882
domingo, 31 de agosto de 2008
Uma sensação de falta, um incômodo que insistia em segui-la até em casa. Pelas calçadas de sempre, aumentava e diminuía o passo, mas foi vã sua tentativa de despistar a inquietude.
Chegou, desabotoou a saia e abriu a janela como se buscasse uma liberdade figurada, deixou que o vento brincasse com os seus cabelos por alguns instantes, enquanto tentava esquecer... mas não conseguiu.
Impaciente foi ao banheiro, com as mãos em concha e em movimentos repetidos jogou água gelada no rosto. Pouco tempo depois a água lhe escorria pelo pescoço, molhando a camisa já amarrotada e arrepiando a pele. Abrindo os olhos, viu seu reflexo no espelho... pode ouvir a voz de Cecília - "eu não tinha esse rosto de hoje. Assim calmo, assim triste...".
Ali, entregue, largou as armas, tirou as máscaras, despiu-se do figurino e descalçou os sapatos de concreto.
Para sua surpresa, na medida em que se afastava do modelo que lhe era imposto, com mais clareza via a si mesma. Longe dos excessos, da certeza fixa e da verdade pronta, pôs-se atenta e por fim, pode escutar a sua alma.
Quando deu por si, a noite já ia alta. O silêncio era regra, excetuado apenas por um rádio, que numa batida gostosa repetia, lá longe, "a vida é curta para ser pequena."
Pensando que amanhã seria o primeiro dia, olhava o mundo pela janela do apartamento: tudo era diverso... Seus olhos eram os mesmos, mas o foco era outro.
Cansada e feliz, vestiu o pijama e foi dormir.
Foto: http://detail24.deviantart.com/art/life-83390630
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Tomou um banho morno e demorado, desses que deixam as pontas dos dedos enrugadas, os ombros soltos, a alma lavada e perfumada.
O céu de inverno estava diferente... Um sol morno num azul aberto... Parecia convidar para uma volta.
Como ela nunca foi de dar toco no céu, não se fez de rogada e saiu distraída como aquele eu te amo, que sem ensaio, escorrega no peito, tropeça na língua e cai da boca.
Foto: http://ultraviolett.deviantart.com/art/monday-morning-49137001
domingo, 17 de agosto de 2008
I + II
Coisas no chão, num arremedo de desculpas, palavras ditas ao mesmo tempo.
- Eu nunca... - sussurrou ela.
- Eu sempre... - arranhou ele.
Sorrisos encabulados e o brilho de um talvez...
Foto:http://anemotionalfailure.deviantart.com/art/Vintage-idea-36471687
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Os papéis e fotografias, espalhados pelo chão, mudam de lugar numa tentativa de combinação: sorrisos distantes, frases alegres, carta de adeus, por do sol na praia...
Imagens, palavras e o vento.
É assim que está tudo quando ela chega em casa.
Da porta, aprecia o cenário, por alguns instantes chega a ensaiar uma reclamação mental pela janela esquecida aberta, mas muda de idéia.
Entra, coloca uma música, tira os sapatos e atira a bolsa no sofá. Pega uma taça de vinho e senta no chão. Muita lembrança embaralhada no piso frio.
Poucos minutos e começa a chover.
Ela corre e fecha a janela, encerrando, sem saber, os galanteios do vento e deixando uma cortina triste a escorrer pela vidraça.
Um trovão e ela sorri lembrando do que ouviu, "não fica assustada, sou eu gritando que te adoro".
Papéis e fotografias vão parar na gaveta...
Ela teve o passado - por vezes, foi ele quem teve a moça - mas isso foi antes, quando ela tinha medo de trovões.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
No céu, poucas nuvens passavam apressadas. Um vento de assovio fazia a árvore balançar. Ao longe uma música baixa, gostosa de ouvir, talvez the heart of saturday night - certo que com algumas horas de atraso, afinal era manhã de domingo.
Mais um agosto e de novo aquelas várias alusões ao desgosto. Sempre estranhou essa idéia de conferir poderes aos dias, objetos e números - como se deles emanasse uma espécie de força a conduzir o destino: azares e sortes.
Dizem que o mês em curso é muito pouco propício aos relacionamentos amorosos. Essa pecha nasceu em Portugal, na época das grandes navegações... agosto era quando as embarcações zarpavam dos portos, então as mulheres que se casavam nesse mês não tinham lua-de-mel.
Ela é de agora, suas descobertas prescindem de grandes navegações e suas expansões ultramarinas não carecem de portos. Assim, recebe o mês com o coração tranquilo - é certo que a saudade anda espiando atrás da porta - mas ela mantém um sorriso leste a oeste, e segue pensando em abraços, cobertas e Djavan à capela.
http://lilfloweronthefield.deviantart.com/art/my-name-is-hope-56620620
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Lá fora, uma sacola plástica rodopiava devagar: o vento soprava frio, mas estava fraco.
Escurecia rápido, como era comum nessa época do ano. A lua viria cheia, o que trazia à lembrança a parte inicial do soneto de Orfeu:
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida"
(Vinícius de Moraes)
Costumava passar horas, sentada no telhado de casa, olhando o céu.
E ela que nasceu sem bússola, vagou entre as suas constelações.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Um frio de assovio, numa noite clara vestindo um céu estampado de estrelas.
A cama demorando e cheia de arrepios, as cobertas encolhidas pela falta de calor.
Meias, mãos embaixo do travesseiro e nariz gelado.
Ela nasceu no inverno, mês de julho, e mesmo gostando do sol, é uma garota da estação.
Se mantém desperta pelo incômodo que precede o equilíbrio térmico.
Serão poucos minutos e ela sabe disso, então, mais resignada que paciente, vai deixando o pensamento livre, e ele vaga pelo ano que passou... os caminhos e as escolhas; a rara, mas presente, impulsividade e seus tufões ocasionais; o medo que andou meio rebelde, mas que já voltou para coleira...
Um calorzinho bom vai se instalado... o corpo relaxado, desfazendo o casulo e se espalhando na cama... os olhos pesados descendo devagar e o coração leve deixando o sono chegar.
Ela, pronome pessoal do caso reto, longe da proteção limitativa dos oblíquos, não é mais complemento. Agora, ela é sujeito (e dorme...shh).
http://ponto-quente.deviantart.com/art/This-is-fact-not-fiction-43799052
PS: A Lu, do Esquadros, indicou o blog para o prêmio 5 estrelas (Beijo Lu!).
Os meus indicados foram: Esquadros, Balão Carmim, Balão e Âncora, Esse Papo Também, Sem Crase.
Quem quiser indicar os blogs preferidos é só passar lá no Gotas Diárias de Sentimento.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Esse negócio de soltar o corpo e se deixar levar... ela é mais âncora que pluma, mais vento que pipa.
Dançar com ela não é fácil... uma espécie de judô valsado, capoeira em minueto.
http://thevampiredred.deviantart.com/art/boats-will-take-me-away-46825033
domingo, 29 de junho de 2008
Anos de pesquisas, investimento, avanço tecnológico e algumas profissões, por obsoletas, deixam de existir.
Os postes para iluminação pública no passado eram acesos por homens. Logo no início, usavam fogo e óleo, muitos anos depois, bastava virar a chave do interruptor. Eles vinham a cada entardecer e colocavam olhos nas ruas e praças. Quando amanhecia eles voltavam, lhes dando descanso.
Claro, é o progresso e nada contra as inovações... quer dizer, talvez uma pequena objeção, ou melhor, faz de conta que esse é um minuto de silêncio em homenagem às atividades arcaicas que de uma queda foram ao chão.
Foto: http://lunati-que.deviantart.com/art/el-tiempo-pesa-68640914
domingo, 22 de junho de 2008
"Don't be coming, come!"
Exatamente por isso a manhã de hoje foi um presente. Um sol manso apareceu deixando o azul frio do céu ainda mais claro. As cores estavam vivas, mas não ofuscantes, simplesmente existindo, luz na medida certa.
Não era a primeira vez que ela percebia essa comichão, mas sempre respondia com um "já vai" medroso ou um "preciso me organizar" reticente. Essa era a criptonita dela: a apreensão diante da dúvida; a incerteza quanto à altura e a possibilidade de vôo; a imobilidade.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Ela conhecia o aviso do escritor - "Não ameis a distância, não ameis, não ameis!"
Pensava, com um meio sorriso estampando o rosto: caro Rubem, de tantos textos, tantas vezes lidos... tem hora que não dá para contar com a geografia.
Apesar da admoestação, lá estava ela seguindo exatamente pela vereda oposta. Ignorando solenemente o conselho. Sim, apesar de todas as opiniões e advertências, sumiços e saudades, ela hoje faz parte do aflito grupo dos que querem os de longe.
Já seguiu mar a dentro, e embora goste do balanço, percebeu que para se ajustar à distância vai precisar de engenho e arte (meio Lusíadas mesmo...)
Os braços têm que ser longos e fortes. Prontos para chegadas e despedidas. Aptos para malas, abraços demorados e ainda mais para carregar a alma.
Pacientes de horizonte, devem ser os olhos. Tantos dias com mais de vinte quatro horas, tantos minutos com menos de sessenta segundos...
A escrita deve correr, ser rápida como Pégaso, ágil como Hermes. Retrato instantâneo do agora, resposta imediata do sentir.
No mais, lighting crashes...
Foto: http://biskuitoreo.deviantart.com/art/long-distance-call-40153241
terça-feira, 3 de junho de 2008
Loading
Em dias assim, os pensamentos seguem a fluidez das nuvens e voam como levados pelo vento. Alguns, talvez por serem menos aventureiros ou, quem sabe, mais teimosos, se deixam ficar, fazendo hora na ante-sala do entendimento.
domingo, 25 de maio de 2008
Delicadeza
Embaciado, o céu estava cheio de nuvens desnorteadas, eram retalhos em movimento, testando combinações.
O sol se fazia menos presente. Verdade que não sumia de uma vez, por delicadeza, ia embora aos poucos, cada dia aparecia menos, até chegar a hora em que o calor não aquenta mais, igual abraço de amor que já foi.
João Gilberto e Tom Jobim, chega de saudade: os acordes limpos do piano; a precisão do violão; a suavidade da voz; a simplicidade poética da letra, a batida...
Ela, tão bem acompanhada, sorria para o tempo se achando uma moça cheia de bossa.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Movendo folhas e pensamentos
O vento não dava trégua, seguia, tirando tudo do repouso...
Levantava a poeira fina da rua, fazendo os passantes apertarem os olhos e praguejarem baixo (pelo menos era o que parecia diante das caras que faziam e da forma com que gesticulavam)...
Tecia uma coreografia estranha e bela, com as folhas secas caídas no chão e com os papéis que deixavam ali, displicentes. Às vezes usava um grupo; noutras, um solista. Eram rodopios e vôos sem ter fim...
Tinha hora que errava de folha e ia atrapalhar a leitura do rapaz de blusa xadrez e calça de veludo, que insistia em ler no banco da praça...
Como se não bastasse, ainda embaraçava os pensamentos dela, do mesmo jeito que fazia com os cabelos longos, da menina que brincava no balanço.
Mas depois de tanto pé-de-vento e redemoinho, ela adquiriu uma certa prática, aprendeu que nessas horas de agito interno, o melhor a fazer é deixar estar...
Assim, de olhos fechados, se permitiu ficar uns instantes aproveitando o calor do sol - que quase não estava ali.
Foto:http://catpuff-noir.deviantart.com/art/Blow-and-Wish-77486338
sábado, 10 de maio de 2008
Forma e volume
Que coisa diferente para uma tarefa, pensou ela intrigada.
No dia seguinte, vestiu o uniforme, toda pensativa. Os babadinhos eram irritantes, mas ela adorava a jardineira, era de saia e xadrez de cor de rosa. Depois do café da manhã, pegou a garrafa azul de vidro grosso, que a mãe tinha colocado embrulhada numa sacola e foi para escola.
A atividade consistia em perceber características dos estados da matéria - forma e volume.
Como um rio, ela corre, seguindo o leito já traçado, mas de tempos em tempos, o caminho se estreita e ela sente a opressão das margens. Novas idéias, pensamentos andarilhos e desejo de mudança surgem como afluentes e ela, em tempestade, é toda inundação. Precisa de espaço para desdobrar a alma e deixa-la ao sol; para inflar os sonhos, permitindo que eles ganhem altura; e ela, a imensidão.
PS: Babadinhos continuam irritantes.
domingo, 4 de maio de 2008
Encontro
Ao longe avistava uma senhora: vinha pequena com passos de paciência; tinha o cabelo cinza preso, possivelmente, num coque; trajava um vestido cor do tempo repleto de florzinhas esmaecidas e trazia numa das mãos um embrulho.
Na medida em que se aproximava, reparava melhor. Embora lento, o andar da senhora era firme; ela não vacilava; estava claro que o tempo não lhe tinha levado o vigor. O saco pardo era da padaria que ficava ali perto. Certamente a senhora estava levando o pão para o café da manhã.
Alguns metros a frente, uma menina de vestido colorido e sandálias brancas corria, equilibrando-se na guia do passeio. Afastada, a mãe atordoada e carregada de sacolas de compras, gritava, em vão, pedindo para que ela esperasse. A equilibrista, por sua vez, olhava para trás de tempos em tempos e continuava na mesma toada.
Chegando na esquina, ela passou pela senhora e pela menina; os olhos das três se cruzaram - iguais em brilho, vivacidade, esperança - e elas trocaram sorrisos. Naquele momento foi como se o tempo se dividisse e permitisse que o passado, o presente e o futuro se encontrassem no breve espaço de um bom dia...
domingo, 27 de abril de 2008
Idéias e labirintos
Se alguém tentasse acompanhar o fluxo do seu pensamento, talvez se perdesse em meio a tantas idas e vindas, cabriolas e rodopios.
Num primeiro momento podia parecer um problema de fácil solução: migalhas ou pedrinhas serviriam para marcar o caminho, assegurando o regresso de quem se aventurasse.
Mesmo assim, a exemplo da fábula infantil, não seria garantido.
Se ela, agitada, balançasse a cabeça para afastar um pensamento inoportuno (como de hábito), as pedrinhas ficariam misturadas e já não sinalizariam o caminho, mas num pequeno monte, denunciariam a confusão.
Por outro lado, caso se deixasse levar por devaneios (o que não é incomum), ficando um pouco avoada, o vento criado pelo bater das asas das idéias, faria com que as leves migalhas alçassem vôo e perdessem a serventia.
Mas ainda poderia existir um jeito... Tal qual Teseu, o intrépido visitante, pessoa assim destemida, poderia utilizar um fio, por via das dúvidas, um cabo. Entraria pelos olhos, que é o lugar certo para conhecer os pensamentos, e com a corda presa ao cárdio, que por ser músculo deve ser forte, andaria pelos corredores, superaria becos sem saída e alcançaria o centro.
Não há pomo, é verdade, mas tem uma menina de rosto vermelho que fica por ali pulando corda, com o rabo-de-cavalo balançando e que não se faz de rogada quando chamada para papear.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Possibilidades
(Virgínia Woolf)
Agora, olhando para trás consegue ver de forma clara as escolhas, as omissões, os atalhos e rodeios que compuseram seu trajeto até aqui.
E lá está ela de novo, parada diante de mais uma encruzilhada.
É ela, mas diversa... sem o cenho franzido, o maxilar tenso ou os ombros curvados, a vida já não lhe pesa.
Traz no rosto um sorriso amplo e um olhar estampado e é assim que conduzirá o seu destino de hoje em adiante, desenhando o futuro com lápis de cor e giz de cera.
Grande engano.
Ela, determinada, sabe que o tempo é por demais precioso para ser gasto com o asfalto, melhor mesmo é admirar a paisagem.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Faxina
Ela balançou a cabeça, fazendo cair esses pensamentos que estavam enrolados nos cachos dos seus cabelos. Foi à cozinha, pegou uma caneca de café - quente, forte e puro. Ligou o computador para responder o e-mail:
Sua tolerância com os meus desacertos, serenou o tumulto da minha cabeça e me ajudou a aquietar o coração. Então eu concordo com você, desencontros podem ser encontros em potencial - talvez em novo formato ou noutro ritmo, mas nem por isso menores em importância.
Quanto ao CD, eu só reparei depois que você falou, alguns trabalhos anteriores da Adriana Calcanhoto tiveram mesmo o mar como tema. Antes de ir, vou deixar uma das músicas que eu disse que gostei.
Guardo você comigo,
Beijo."
Ilustração: Claudia Degliuomini
terça-feira, 15 de abril de 2008
O senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal *?
Existia um pomar enorme que ela amava desbravar, calçada com as suas botas sete léguas amarelas (a insistência na cor pode parecer defeito no texto, mas fazer o que? a realidade por vezes se repete). Bom, é verdade que havia um problema, ela embora peralta era novinha, e algumas árvores eram bem altas, resultado, logo fez amizade com as jabuticabeiras.
Tinha também um córrego, onde ela pescava girinos com copos de vidro transparente. Ela dizia que eram peixinhos e ficava intrigada porque a mãe não deixava mais os copos que ela usava junto dos outros, dizendo que tinham ficado sujos. Mas como podiam ser sujos se eram bichinhos da água? (até que ela descobriu que eles viravam sapos... um cataclismo).
Numa certa feita, o pai viajou, ficaram os três - ela, a mãe e o irmão. O caseiro do sítio, muito falante, começou a contar a história da antiga proprietária, recentemente falecida. Narrava ele, que a senhora gostava muito do lugar, tinha feito o pomar, plantado as flores, escolhido o lugar da casa, e que não tinha tido muito tempo para aproveitar. Por isso ela sempre voltava para visitar o sítio. Todos riram muito e o dia passou. Nessa época, não havia eletricidade na região. À noite, ela, o irmão e a mãe costumavam caçar vagalumes. A mãe, cuidadosamente, amarrava os bichinhos pela cintura com uma linha, numa espécie de fila e depois prendia o comboio no pé da cama (não carece chamar a defesa dos insetos brilhantes e oprimidos porque eles eram soltos depois, quase sempre...). Nessa bendita noite a mãe adormeceu e não soltou os bichos, de madrugada, ela acorda e vê o clarão ao pé da cama, imagina se ela lembrou dos vagalumes....
O tempo passou, o sítio foi vendido, a área que era rural virou urbana.
Dessa época ficaram as histórias e a amizade pelas jabuticabeiras. Três vivem no quintal da casa dela e não a deixam esquecer do tempo das botas amarelas.
* Uma das últimas frases do texto Olhe aqui Mr. Buster...de Vinícius de Moraes.
sábado, 12 de abril de 2008
Sonho
A primeira era de um casamento. Encostou na foto para ver melhor e acabou caindo lá dentro. Deu por si, sentada no chão em frente à igrejinha branca. Levantou rápido, meio desajeitada, batendo a poeira dos joelhos. A noiva entrava, bonita de dar gosto, andava pausado e olhava pros lados. Ao passar por ela, parou por um instante e sorriu de um jeito conhecido... Aquela moça era a vó dela, quer dizer, ia ser ainda. Ela queria perguntar tanta coisa, mas se limitou a sorrir de volta e a noiva-vó seguiu seu caminho.
Ela saiu da foto e continuou perambulando supresa-intrigada-animada.
Logo se deparou com três crianças, todas arrumadinhas. As duas meninas estavam sentadas e o menino entre elas, de pé. A menina mais nova, de olhos pretos e com a barra do vestido suja, acenou com entusiasmo, era a madrinha. Ela respondeu o aceno, mas a menina já estava entretida puxando uma linha solta no forro da cadeira.
Andando, viu vários dos seus nas fotos seguintes, na medida em que avançava no tempo, os tons em sépia davam lugar às cores. A fotografia dos pais, em lua-de-mel, era de um colorido polaroid meio esmaecido.
Um pouco mais a frente e lá estava ela, com uns quatro anos. Se recordava desse dia. Era uma fotografia de família, todas as famílias iam tirar uma foto para um anuário. Estavam a mãe, com um vestido vermelho lindo; o pai, de terno com colete e tudo; ela com um vestido azul e o irmão, com um conjunto marrom. O fotógrafo posicionou todo mundo: o pai de um lado com o irmão no colo, a mãe do outro lado e ela no meio. Na frente, perto do fotógrafo, tinha uma senhora com poucos afazeres, que ficava falando - sorri, olha para cá, vira para lá - uma chatice. Como essa organização toda já tinha demorado um pouco e a paciência sempre lhe foi escassa, encheu as bochechas de ar, franziu a testa e ficou olhando para tal senhora, que estava prestes a dar um siricutico. Alheio a isso tudo, o moço tirou a foto e ela ficou de bico congelado.
A última fotografia era escura, não dava para ver com nitidez a paisagem de fundo. A luz que entrava pela janela alta, incidia de forma indireta e só mostrava uma silhueta, era uma imagem bela. Will you count me in? Enquanto se aproximava... I've been awake for a while now... ela divisava o encosto da cadeira....You've got me feeling like a child now... os ombros...cause every time I see your bubbly face... tinha uma sensação de familiaridade... I get the tinglies in a silly place ...
Era a música do despertador do celular.
Permaneceu na cama por um tempo, deixando que os pensamentos amarrotados se espreguiçassem.
sábado, 5 de abril de 2008
Companhia
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Afeto, união e interseção
Falavam de sapatos e bolsas, as cores e tendências da nova estação; dos amores, passados e presentes, seus defeitos e qualidades, suas ausências e as perdas; do início da campanha presidencial, com a saída das primeiras pesquisas e os possíveis candidatos; das mais novas dietas e da eterna segunda-feira; de trabalho e desejos.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Afazeres
E ela lá, em pé, atrás de milhares de pessoas - tudo bem, não eram milhares. Pode parecer que ela tem uma certa tendência ao exagero, mas não é isso. Sabe a diferença entre temperatura e sensação térmica? Então, é que nem - Continuando...
Ela lá, um bom tempo de espera pela frente. Nada pra fazer nesse período e nada que pudesse fazer a esse respeito. Já que era assim, ela passou a observar as pessoas ao seu redor.
Obs: ilustração Marcus Romero - http://meicas.blogspot.com/
Micropoema
Esse micropoema é bem charmoso.
A autora do poema e da ilustração se chama Cláudia e ele foi retirado de http://mundogominola.blogspot.com/
Animação
A animação é simples, mas é bem divertida.
quinta-feira, 27 de março de 2008
...but you
Porque o filme é uma graça (Juno) e a música é bem bonitinha (Anyone else but you)
terça-feira, 25 de março de 2008
Sentido(s)
A Maresia, o vento estava carregado do perfume do mar. O som das ondas se desfazendo na areia era a única música que se ouvia. O sol morno secava o corpo molhado de sal e ela toda feliz, de férias do mundo.
Tem hora que eles vêm todos juntos, de mãos dadas...
sábado, 22 de março de 2008
Mudanças
terça-feira, 18 de março de 2008
Ruas e esquinas
domingo, 16 de março de 2008
A mexicana
Nela se reunem todas as marias, não a cantada por Milton Nascimento, mas aquelas que se identificam como: María la del Barrio, María Mercedes e Mari-Mar. Isso mesmo, as mocinhas das novelas mexicanas), com seus gritos e lágrimas, com seus dramas e topetes.
Hoje tudo é pouco e muito é nada. Nossa, será que agora é Ana, a Carolina?