Se equilibrando na guia do passeio, tropeçava em horas e saltava os dias. Andando assim, meio distraída, lia a vida com seus óculos de uma perna só.
Seguindo nessa toada, sem saber precisar direito o momento, ouviu um barulho que mais parecia o farfalhar de grama alta. Ficou intrigada porque ali não tinha vento ou folha, nada que lhe justificasse o ouvido.
Bem sei que pode parecer bobo para uma pessoa não acostumada a devaneios, dar atenção logo para uma coisinha dessas... Meio estranho, mas não para ela que era uma colecionadora de pequenos eventos.
Com os olhos estreitados de quem sonha com cuidado procurou a origem do som e deu de cara com um sorriso branco e aberto. Por susto ou timidez, o rosto, casa daquele sorriso, se pintou de cor de rosa e ficou ainda mais bonito de olhar.
Naquele acontecimento viu um evento colecionável e retribuiu o sorriso. Nesse mesmo instante, ouviu novamente o barulho e, por fim, entendeu: o ruído baixinho que parecia ser do vento dançando com as folhas, era na verdade o som dos pelos levantando em arrepio.
Um coração pressente quando encontra sua outra casa, isso agora ela podia contar.