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domingo, 28 de fevereiro de 2010

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.”
Guimarães Rosa


Essa inquietação do amor faz da minha prosa um completo clichê.

Vendaval que embaraça meus pensamentos e anuvia minha vista, converte espelho d’água em mar revolto. Poderosa, muda o ritmo das horas e afasta o meu sono e bane o meu sossego. É justo no meio dessa bagunça que você reaparece.

Um meio sorriso que logo vira inteiro e ilumina tudo e me faz entender Guimarães Rosa: num abraço, descanso minha loucura no seu ombro.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um vento áspero afasta as nuvens deixando à vista um sol cinza que já acorda torto e sobe tropicando para um canto do céu.

Ela também levanta pelo avesso, com o coração amuado e a alma amarrotada. Apesar da teimosia das pernas que insistem em permanecer inertes, vai até a cozinha. Cheia de adjetivos, suas olheiras não combinam com o café frio e, definitivamente, dor de amor não rima com segunda-feira.



http://ultraviolett.deviantart.com/art/goodbye-73416732

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sabe aquelas pessoas cheias de teorias e idéias mirabolantes? Então, a menina era bem assim, achava um monte de coisas e tinha um firme propósito de controlar o tempo.

Gostava de tirar foto de todo momento bonito: achava que congelando ele ali, não corria o risco dele escapar.

Ficava acordada até bem tarde da noite, os olhos chegavam a ficar vermelhos e ardendo: achava que assim esticava as horas e segurava o dia.

Quando gostava de um cheiro, respirava bem fundo: achava que assim ele ficava guardado dentro dela pra sempre.

Na verdade a menina tinha medo quando a vida corria solta, ela queria mesmo era ter a certeza das rédeas. Mas como era de se esperar, o tempo não foi obediente e a menina cresceu.

É certo que ela ainda tem medo quando tudo é montanha russa, mas aprendeu a respirar devagar pra controlar o coração. Quando não dá certo, fecha os olhos bem apertados e abre os braços aceitando o vento e a vertigem.

http://light-from-emirates.deviantart.com/art/imagination-144638335

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Se equilibrando na guia do passeio, tropeçava em horas e saltava os dias. Andando assim, meio distraída, lia a vida com seus óculos de uma perna só.

Seguindo nessa toada, sem saber precisar direito o momento, ouviu um barulho que mais parecia o farfalhar de grama alta. Ficou intrigada porque ali não tinha vento ou folha, nada que lhe justificasse o ouvido.

Bem sei que pode parecer bobo para uma pessoa não acostumada a devaneios, dar atenção logo para uma coisinha dessas... Meio estranho, mas não para ela que era uma colecionadora de pequenos eventos.

Com os olhos estreitados de quem sonha com cuidado procurou a origem do som e deu de cara com um sorriso branco e aberto. Por susto ou timidez, o rosto, casa daquele sorriso, se pintou de cor de rosa e ficou ainda mais bonito de olhar.

Naquele acontecimento viu um evento colecionável e retribuiu o sorriso. Nesse mesmo instante, ouviu novamente o barulho e, por fim, entendeu: o ruído baixinho que parecia ser do vento dançando com as folhas, era na verdade o som dos pelos levantando em arrepio.

Um coração pressente quando encontra sua outra casa, isso agora ela podia contar.