As buzinas e motores me alcançam em câmera lenta, parece que
os carros chegaram ao quinto andar. Amanheço tarde, sinto o seu calor e numa
cadência bossa nova abro os olhos, você
ainda dorme e a sua respiração mostra que o trânsito ainda não invadiu os seus
sonhos.
Apoio a cabeça no braço: o sol aproveita a fresta da cortina
e faz arte nas paredes, enquanto denuncia, indiscreto, a bagunça dos lençóis e
das nossas pernas. Afasto-me um tiquinho, só o suficiente pra ver a sua paz,
sorrio, pensando que ela é inversamente proporcional ao seu fogo.
Não resisto e carinho seus cabelos curtos, gosto deles
assim, em desalinho... Você desperta sorrindo, ronrona alguma coisa, mas nem
abre os olhos, vira de lado e me puxa até que nossos corpos ficam justapostos,
você beija a minha mão e se aninha, enterro o nariz no seu pescoço e respiro a
alegria desse pedaço de pra sempre.
O dia vai ter que esperar.