O dia tinha sido comum - os horários, o trabalho, as pessoas, os lugares - mas ela estava diferente.
Uma sensação de falta, um incômodo que insistia em segui-la até em casa. Pelas calçadas de sempre, aumentava e diminuía o passo, mas foi vã sua tentativa de despistar a inquietude.
Uma sensação de falta, um incômodo que insistia em segui-la até em casa. Pelas calçadas de sempre, aumentava e diminuía o passo, mas foi vã sua tentativa de despistar a inquietude.
Chegou, desabotoou a saia e abriu a janela como se buscasse uma liberdade figurada, deixou que o vento brincasse com os seus cabelos por alguns instantes, enquanto tentava esquecer... mas não conseguiu.
Impaciente foi ao banheiro, com as mãos em concha e em movimentos repetidos jogou água gelada no rosto. Pouco tempo depois a água lhe escorria pelo pescoço, molhando a camisa já amarrotada e arrepiando a pele. Abrindo os olhos, viu seu reflexo no espelho... pode ouvir a voz de Cecília - "eu não tinha esse rosto de hoje. Assim calmo, assim triste...".
Cansada de lutar contra a perturbação que já havia se instalado em seu espírito, deixou-se cair, exaurida, no sofá da sala.
Ali, entregue, largou as armas, tirou as máscaras, despiu-se do figurino e descalçou os sapatos de concreto.
Para sua surpresa, na medida em que se afastava do modelo que lhe era imposto, com mais clareza via a si mesma. Longe dos excessos, da certeza fixa e da verdade pronta, pôs-se atenta e por fim, pode escutar a sua alma.
Ali, entregue, largou as armas, tirou as máscaras, despiu-se do figurino e descalçou os sapatos de concreto.
Para sua surpresa, na medida em que se afastava do modelo que lhe era imposto, com mais clareza via a si mesma. Longe dos excessos, da certeza fixa e da verdade pronta, pôs-se atenta e por fim, pode escutar a sua alma.
Quando deu por si, a noite já ia alta. O silêncio era regra, excetuado apenas por um rádio, que numa batida gostosa repetia, lá longe, "a vida é curta para ser pequena."
Pensando que amanhã seria o primeiro dia, olhava o mundo pela janela do apartamento: tudo era diverso... Seus olhos eram os mesmos, mas o foco era outro.
Cansada e feliz, vestiu o pijama e foi dormir.
Foto: http://detail24.deviantart.com/art/life-83390630
21 comentários:
retornos estreitados...
Bonitas palavras, moça!
Visite o Balaio e seja bem-vinda.
Abraços do Guru.
Mudar o foco e ver as coisas por outro ângulo. Puxa, queria que isso fosse mais fácil! Mas tudo bem, quem disse que a vida seria um passeio? Ela tem mesmo que ser grande por ser curta.
Ps.: Gostei da nova decoração, suave como seus contos.
Caro Xavier,
Sim, estreitados.
Bjs
Bem vindo Guru,
Obrigada pelas palavras e pelo convite.
Oi João,
Também gostaria que fosse fácil... Mas, não posso reclamar.
Bjs
Cada vez que venho ler-te aprendo um bocadinho contigo, confesso que esse texto de hoje me tocaste mais que os demais, hoje senti que ele conversava comigo. saiba que levarei comigo a canção 'a vida é curta pra ser pequena'...
" "eu não tinha esse rosto de hoje. Assim calmo, assim triste...". "
Eu também me olho ao espelho e penso que não tinha esse rosto. Aliás, procuro vida nos meus olhos. Talvez mudar o foco..... Quero um primeiro dia pra mim também. Primeiro de novo.
A foto foi muito bem escolhida pro texto. Como sempre as coisas aqui estão em harmonia.
"a vida é curta para ser pequena".
fantástica observação.
preciso pensar a todo instante assim.
,*
As vezes a vida anda mesmo tão corrida que eskecemos de passar poucos momentos assim, em nossa propria companhia. ;)
terei mesmo que voltar...
A Lalinha estava absolutamente correta na descrição no seu blog.
Parabéns pelo espaço.
Talvez vc goste do spleen rosa- chumbo, onde também faço prosa das minhas experiências.
Grande abraço
Sempre denso, sempre doce, sempre um bom lugar-aconchego-em-letras.
=************
Ainda bem q os focos mudam!
... é fui dormir, pra levantar no outro dia e correr pra vida com o sapato de concreto e tudo mais novamente...
muitas vezes escuto a voz de Cecília, e te confesso que não é muito bom...
lindo! lindo!
me vi na cena... chegando do trabalho, no meu sexto andar, cansada da vida, querendo desabrochar... desculpe-me a ausência, estou sem net, mas sempre que posso dou um pulinho aqui e leio tudo... adoro teus escritos!!!
beijos ;*
nada como um novo olhar diante do que se vê todos os dias.
Ela olhou o mundo pela janela do apartamento... Tudo era diverso.
Encontrara-se?
Você tece histórias, Narradora. Normalmente curtas... Sempre bonitas, constantemente especias - tão suas!
Que bom vir aqui!
Bj
Oi vizinha,
Bom ver voc� por aqui. Gosto dessa frase, ouvi numa m�sica cantada pelo Moinho, acho que chama "Doido de varrer".
Bjs
Camilla,
comigo funciona meio assim, quando o meu cora�o fica �mido, d� bolor nos olhos.
O bom desse neg�cio de primeiro dia, � que a gente que institui e nem precisa de decreto... :)
Bjs
Amanda,
Tamb�m adorei a frase, entrou pra minha cole�o de "mantras" :)
Bjs
Miss Mary West,
Grande verdade (o que � uma pena).
Bjs
Paradoxos,
Sempre bem vindo! :)
Junkie Careta,
A Nalaura é boa com as letras. :)
Bem vindo.
Bjs
Cecília,
Sempre gentis suas palavras.
Bjs
Gra,
Amém ;)
Bjs
Ana Cláudia,
Eu tava aqui pensando... tem umas coisas que não são muito boas de ouvir mesmo, tipo esses versos da Cecília... Mas por vezes, elas desencadeiam revoluções.
Bjs
Rê,
Uma luz diferente, outro foco, talvez um filtro e o "tododia" fica novo.
Bjs
Ilaine,
Acho que sim, "encontrada" até a próxima mudança :)
Obrigada.
Bjs
Salve, salve!
Muito bom!
vai querendo ser feliz.
Bem vinda Alê e obrigada.
Clara,
Querendo com força.
Bjs
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