Uma tarde em pleno meio de semana, um sol estalado e pregado no céu, o ar parado, quase sólido, um abafado barulho de motores e buzinas bem ao longe.
Ela cheia de trabalho e de uma falta de vontade de cumprir obrigação... Na verdade estava no seu mais perfeito modelo de complicação: com vários itens de série, todos os adicionais disponíveis para o seu ano de fabricação e mais aqueles adquiridos ao longo do tempo.
Nesse estado de ânimo, largou as canetas, fechou o editor de textos e foi pro jardim: andar descalça, sentindo a grama quente sob os pés - gentebichosemidomesticado não pode viver em apartamento, simplesmente não cabe.
Então, para acalmar a mente resolveu fazer barulho: com pregos, martelo, suor, tábuas e uma completa falta de jeito, entendeu por bem arrumar o fundo solto da floreira. Dedo amassado, jeans rasgado e já dava para plantar: pedras, terra, água e adubo; medos expostos à luz; idéias e escolhas revisitadas.
No fim da tarde, leve e suja, ela via da janela aberta a chuva que caía pesada e poética sobre as suas cinco gérberas coloridas. Com o cheiro de terra molhada vinha a certeza de que às vezes ela precisava se ver pelo avesso para entender direito o a trazia de volta, impelindo-a a continuar.
Ela cheia de trabalho e de uma falta de vontade de cumprir obrigação... Na verdade estava no seu mais perfeito modelo de complicação: com vários itens de série, todos os adicionais disponíveis para o seu ano de fabricação e mais aqueles adquiridos ao longo do tempo.
Nesse estado de ânimo, largou as canetas, fechou o editor de textos e foi pro jardim: andar descalça, sentindo a grama quente sob os pés - gentebichosemidomesticado não pode viver em apartamento, simplesmente não cabe.
Então, para acalmar a mente resolveu fazer barulho: com pregos, martelo, suor, tábuas e uma completa falta de jeito, entendeu por bem arrumar o fundo solto da floreira. Dedo amassado, jeans rasgado e já dava para plantar: pedras, terra, água e adubo; medos expostos à luz; idéias e escolhas revisitadas.
No fim da tarde, leve e suja, ela via da janela aberta a chuva que caía pesada e poética sobre as suas cinco gérberas coloridas. Com o cheiro de terra molhada vinha a certeza de que às vezes ela precisava se ver pelo avesso para entender direito o a trazia de volta, impelindo-a a continuar.
Foto: http://lovelywordthief.deviantart.com/art/Spring-96463391
17 comentários:
as palavras me fizeram do avesso.
tenho muito o que entender.
grandes abraços.
Talvez são nos avessos que realmente nos encontramos.
Bjos L. Narradora!
Abraço Luiz.
Sabe que eu acho que é assim mesmo Gra, a gente se vê de verdade mesmo por dentro.
Bjs
Oi moça narradora...
"gentebichosemidomesticado" eu sou assim! rsrsrs! palavras certas nos lugares certos, seu blog é encantador.
P.S: leitora veterana, o comentário é que é inédito. É muita responsabilidade comentar textos tão profundos, mas hj criei coragem! :)
Abraços...
Oi Tati,
Bem vinda!
Que bom que comentou, assim pude achar o seu espaço de borboletas.
Bjs
Os teus contos, Narradora, são sempre assim: deliciosos de se ler. Eles afagam a alma e trazem um sensação aveludada de que viver vale a pena. Contas de coisas pequenas e simples, mas que se tornam tão grandes e importantes- vendo-as do avesso ...para entender direito em sua essência.
E "ela" continua...
bj
Menina, eu quis dizer...
...coisas que se tornam tão grandes e importantes - vendo-as do avesso... para entendê-las direito em sua essência.
Abraço
Curtinho e cheio de verdade. E cada um tem um jeito de se ver pelo avesso. Uns fazem barulho, outros ficam descalços na grama, outros em completo silêncio escuro. O avesso do avesso, onde vemos as costuras, como foram feitas, quantos pontos faltam pra que o botam fique mais firme.
Adorei.
hahahahaha
adorei entender um pouco do todo!
As gérberas coloridas são meu encanto. E me deram o fio condutor da tua história. Me fiz, bicho urbano, revolvendo a terra em busca do meu outro eu. Tal qual Caetano, "o avesso do avesso do avesso".
Tenho uma amiga que se identificaria no primeiro instante. Para ela, tomei a liberdade de fazer um copy&paste e estou encaminhando.
bjs. Veronica
Ilaine,
Gosto mesmo das coisas simples e de quando o texto sai suave, como nem sempre a cabeça funciona assim nessa sitonia, acaba sendo uma forma de doemsticar a mente...rs
Sempre bom ter você por aqui.
Bjs
Camilla,
Verdade né? Cada um tem um jeito de se ver pelo avesso, e de reforçar a alma.
Cada vez gosto mais dos seus textos.
Bjs
Amanda,
Que bom...rs
Bjs
Verônica,
Adoro gérberas e cheiro de chuva... também sou urbana, mas preciso de espaço amplo e verde...rs
Quanto ao texto, fique à vontade.
Bjs
nossa que lindo, poético!
Esse cheiro de terra molhada, sinal de chuva que me deixa do avesso.
adorei suas palavras!
Olá Luciana,
Nesta manhã de sábado, às voltas com as escritas acadêmicas que preciso tecer, ler o seu texto tão lindo foi um afago na alma.
Acalmei a mente com o barulho silencioso do seu texto.
Oi moça... tô aqui de novo para te dizer que te indiquei ao Premio Dardos. Você merece de verdade! beijos!
Estou a procura do meu avesso. Má achu que o temo ao mesmo tempo.
quee beleza iso tudoo
muitoo poetico auhahau
bejoo
Rê,
Cheiro de chuva me refresca as idéias...
Obrigada :)
Paula,
Seja bem vinda e obrigada pelas palavras gentis.
Bjs
Tati,
Desculpa a demora, muito obrigada pela indicação, fico muito lisonjeada.
Bjs
Miss Mary West,
Acho que todo mundo sente isso...
Bjs
Oi Camila,
Obrigada.
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