Ao som da música ela piscava, arrumando o foco dos olhos, ainda pouco acostumados com a claridade. A cada passo, seus pés descalços sentiam a idade das tábuas do piso.
"Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem a sede que morre no seio
Nota que fermata quando desafino."
No final do corredor a luminosidade se fez plena, forçando-a a proteger os olhos, usando a mão por viseira.
As janelas abertas de amplo verão convidavam o sol, que todo à vontade riscava o chão com seus braços de luz.
Vez por outra, um ventinho entrava e tirava as cortinas pra dançar, aproveitando a música que vinha da varanda. Bastou um instante pra sua camisola branca também aceitar o convite do vento.
"Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá"
Sonolenta e ainda com os cabelos despenteados, a moça continuou o caminho até a porta.
A varanda era grande e depois dela vinha um jardim com barulho de água de aspersor. Mais um passo e o chão de um frio-lajota gostoso; lá no canto, uma rede de algodão cru.
"Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso"
O encanto vinha de lá, da música que repousava na rede. E ela tomada por esse pedaço de pra sempre quis ver de perto, quis ter à mão.
Continuou andando e quando viu a rede ocupada, entendeu o abrigo que procurava e sem cerimônia , como se faz ao chegar em casa, descansou no peito do seu bem.
"Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito..."
PS: Rê, valeu pelo selo! Fiquei toda, toda. :)
O título e os trechos fazem parte da música Sonho de uma flauta - O Teatro Mágico.
Foto:http://wackycracka.deviantart.com/art/Lay-With-Me-12457751