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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Ilusão
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Narradora
Alguns são realistas, racionais como dizem... fazem parte de uma espécie de clube seleto, mantêm um olhar blasé e imaginam deter, em algum grau, o dom da premonição. Fazem cálculos, analisam fatos, querem provas, vêem possibilidades e só então dizem sim, mas, verdade seja dita, são mais adeptos do não. Ela conhece bem o grupo, fez parte dele até pouco tempo atrás... reduzir riscos, minimizar danos, evitar ilusões.
Mas não há garantia, e essa ingênua tentativa de controle, não passa, ela própria, de outra quimera.
Decidiu mudar, quando percebeu que as cercas que construiu ao redor de si, com tanto cuidado, buscando segurança, acabaram por deixar de fora todo o resto... na verdade, o melhor que a vida tem pra oferecer.
Agora, ela respira fundo, relaxa os ombros, olha pra frente e segue, sabendo que os riscos existem, mas, que na maioria das vezes, vale a pena pagar pra ver.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Colecionadores
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Narradora


Pequenas conchas, seixos, postais antigos, canivetes, chaveiros, bonés, xícaras, moedas, selos, relógios, óculos.... objetos que têm o seu valor medido pelo querer-carinho ou querer-desejo de possuir.
Assim, alguns colecionadores têm coisas, e elas servem pra demonstrar poder, controle e status; enquanto outros, têm pedaços de vida, pequenos elos que unem uma viagem na infância, com um passeio de bicicleta, com um dia na praia, com um beijo a tardinha, com um adeus dolorido, com um sorriso sincero, com um almoço em família, com uma noite entre amigos, com o acordar nos braços do bem querer, com a vitória do time, com o choro contido, com uma manhã de sol, com uma lua cheia...
Ps.: Ela coleciona estrelas.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
O parque
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Narradora

É certo que um dia ou outro é marcado por grandes acontecimentos, fatos ou atos de quinta, as vezes de quarta grandeza - alguma coisa próxima ao brilho do sol.
Mas pra ela, são as coisas do dia a dia, a forma como elas são vistas ou não são, que definem a vida.
Umas coisas pequenas podem fazer com que se perca a paz. Palavras ditas na hora errada, ou não ditas, ou mesmo uma inverdade, confusões muita vezes evitáveis...
Mas também, são algumas pequenas coisas que salvam, um sorriso, uma conversa de horas que parece que acabou de começar, um por do sol, uma pequena conquista, uma superação pessoal...
Acreditando nisso, ela levantou no domingo, um sol enorme anunciava o dia. O parque de diversões estava na cidade, com seu barulho, cores e luzes... já que são as pequenas coisas, por que não uma maçã do amor?
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Acordar...
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A casa está vazia, mas ela já não está sozinha. De uns tempos pra cá ela nunca está...
De olhos fechados ainda pode ver a face clara; o desenho firme do queixo; o cabelo preso atrás da orelha que teima em escapulir e correr pelo rosto; o sorriso franco, as vezes encabulado; os óculos...
De olhos fechados ainda pode ver a face clara; o desenho firme do queixo; o cabelo preso atrás da orelha que teima em escapulir e correr pelo rosto; o sorriso franco, as vezes encabulado; os óculos...
Recorda a voz, o sotaque, percebe a escolha das palavras, a forma de falar e os silêncios...
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Chuva
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domingo, 17 de fevereiro de 2008
Hospital de bonecas
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Numa época em que as coisas não eram descartáveis, existia na cidade dela uma oficina de brinquedos. Toda vez que um deles quebrava, bastava ligar pro hospital e um doutor de guarda-pó branco ia buscar o paciente, diminuindo a inquietação dos pequenos.
Ela não era especialmente cuidadosa com as filhas, costumava carregar as bonecas pelo braço, o que levantava sérias dúvidas quanto ao seu instinto materno. Mas uma coisa lhe tirava o sossego: quando os olhinhos delas insistiam em ficar fechados, mesmo quando estavam de pé. Não dava pra brincar que era dia, porque a boneca sempre dormia. Nesse caso, o único jeito era apelar pro hospital de bonecas, que era como ela costumava chamar a oficina.
As vezes parece que os olhos da alma dela estão avariados, com os mesmos sintomas dos das bonecas - sempre fechados, no máximo semi-abertos. Nessas horas, ela não consegue ver com clareza, e a incerteza a deixa esquiva e desconfiada. Assim, cerra as janelas e tranca as portas, deixando algumas vezes o coração do lado de fora.
Hoje em dia não existe mais o hospital e ela sente falta da segurança das certezas daquele tempo.
Imagem: http://www.putacore.zine.vilabol.uol.com.br/boneca.jpg
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Entrega
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Agendas, projetos, mapas, datas, bússola... a vida toda planejada, leito fácil de rio tranqüilo, era isso que ela conhecia.
Mas, como as vezes acontece, a vida decidiu se rebelar e seguir noutro rumo, dispensando as coordenadas que ela tão cuidadosamente tinha traçado.
Confusa, ela tentava resistir, mas as mudanças ocorriam à sua revelia. Nesse esforço equivocado e vão, vagueava em desacerto, entre pedras e galhos, lutando contra a correnteza. Por fim, exausta, capitulou; vencida, se deixou levar.
E foi nesse momento, no silêncio do cansaço, na paz da entrega, que ela, rio, pode apreciar a imensidão do mar.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
São Valentim
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O imperador Claudius II, tinha como objetivo formar um grande exército e por isso proibiu a realização de casamentos no reino, vez que acreditava que jovens sem família se alistariam com maior facilidade.
Apesar da proibição, um bispo romano, chamado Valentine, continuou, em segredo, a celebrar casamentos. A prática foi descoberta e ele preso e condenado à morte (foi decapitado em 14 de fevereiro de 270 d.C).
Durante o período de cárcere do bispo, muitos jovens jogavam flores e bilhetes na sua cela, dizendo que ainda acreditavam no amor. Dentre eles estava Asterius, filha cega do carcereiro, que conseguiu a permissão do pai para visitar Valentine. Os dois se apaixonaram e ela milagrosamente recuperou a visão. O bispo chegou a escrever uma carta de amor para a jovem com a seguinte assinatura: de seu Valentine - expressão ainda hoje utilizada. (Fonte: Wikipédia)
Feliz dia de São Valentim!
Borboletas e girassóis
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Essa foi a pergunta cansada, de rosto vermelho e mãos suadas feita pelo motorista de táxi, que deixou a mala dela ao pé da escada, naquela manhã.
Distante do canto ritmado do mar e da brisa salgada que já não lhe chega suave ao rosto, ela passou o dia colocando a vida em ordem. No fim da tarde, na companhia de um café quente e forte, ela ficou pensando na pergunta do moço - o que carregava?
Já teve época de mochila, outros tempos de grandes malas, mas hoje, a alma só carrega nos ombros um alforge. Estão dentro dele: algumas culpas e um certo receio; a saudade que as vezes deixa o sorriso sépia; mas, também estão lá, as lembranças que dão força, os afetos que dão liga e os sonhos que apontam o futuro... Ah sim, umas borboletas e vários girassóis.
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Olhos nús
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Olhar é colocar os olhos em alguém ou em alguma coisa; ver, vai além disso, é contemplar, perceber, apreciar, conhecer. Para ver é necessário olhar, mas nem sempre se vê o que se olha.
P.s. Apesar dos meus óculos, quando eu te olho, eu te vejo.
Além disso, quase nunca se vê com os olhos nús. Entre o olhar e o que se quer ver, existem anteparos, filtros. É como se todos usassem óculos, cujas lentes são os preconceitos, os receios, as vivências...
Uma pena ser tão pouco freqüente aquele olhar limpo, sem traves, olhar de primeira vez, que permite ver, na mais verdadeira acepção da palavra.
P.s. Apesar dos meus óculos, quando eu te olho, eu te vejo.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Falar e calar
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Narradora

Mesmo quando não dita, a palavra se mantem forte, presente na agonia do silêncio inoportuno: para a pessoa que se cala é excesso e para a que não ouve, vazio.
Ela nunca teve facilidade em encontrar o equilíbrio entre o falar e o calar. É certo que na raiva, o silêncio é melhor. Poucas coisas são tão desconfortáveis quanto a sensação de ter acabado de dizer algo realmente ofensivo, de ter se excedido.
Palavra é bicho de doma difícil e isso ela descobriu logo. Algumas vezes viu o que disse ser interpretado de forma diferente, como se as palavras, uma vez faladas, se emancipassem, adquirindo vontade própria, dando rodopios e cabriolas (como a idéia fixa do Brás Cubas de Machado).
Ela nunca teve facilidade em encontrar o equilíbrio entre o falar e o calar. É certo que na raiva, o silêncio é melhor. Poucas coisas são tão desconfortáveis quanto a sensação de ter acabado de dizer algo realmente ofensivo, de ter se excedido.
Palavra é bicho de doma difícil e isso ela descobriu logo. Algumas vezes viu o que disse ser interpretado de forma diferente, como se as palavras, uma vez faladas, se emancipassem, adquirindo vontade própria, dando rodopios e cabriolas (como a idéia fixa do Brás Cubas de Machado).
Mesmo sem muito treino com essas criaturas (as palavras) ela decidiu usá-las mais - na forma muda (como agora), mas principlamente na falada, pra expressar seu carinho, afeto e apreço pelas pessoas - porque nem todo o silêncio é ouro.
Carmem - Bizet - Menina do céu
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Carmem é uma ópera cuja língua de origem é o francês, que se passa na Espanha - em Sevilha, e conta a tumultuada história do amor de Carmem (uma cigana) e D. José (um cabo do exército), sem esquecer de Escamillo (toreador de Granada). Pensa uma confusão!
A banda mineira Menina do Céu apresenta uma visão interessante dessa conhecida ária - "L'amour est un oiseau rebelle..." (o amor é pássaro rebelde...)
A tradução é mais ou menos essa:
O amor é um pássaro rebelde
Que ninguém pode prender,
Não adianta chamá-lo
Pois só vem quando quer.
Não adiantam ameaças ou súplicas,
Um fala bem, o outro cala-se
É o outro que prefiro,
Não disse nada, mas agrada-me.
O amor é filho da boêmia,
Que nunca, nunca conheceu qualquer lei;
Se não me amares, eu te amarei;
Se eu te amar, toma cuidado!
O pássaro que julgavas surpreender
Bateu asas e voou
O amor está longe, podes esperá-lo
Já não o esperas, aí está ele,
À tua volta, depressa, depressa,
Ele vem, ele vai, depois volta,
Julgas tê-lo apanhado, ele te escapa;
Julgas que te fugiu, ele agarra-te
Dá os ares com aquele poema de Drummond (Não se mate):
"Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será (...)"
Obs:Habanera, embora apareça como título, é um estilo musical criado em Havana, Cuba (La Habana).
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
A poesia que eu falei
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Narradora
Conta saldada
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Narradora
Era nisso que ela estava pensando enquanto caminhava na praia, sem a máquina - nas oportunidades...
Relembrando, ela pode perceber que algumas oportunidades ela buscou, lutou mesmo pra ter; umas, surgiram de surpresa; e outras, ela só viu pelo retrovisor. Algumas, ela agarrou com força pra não deixar escapar; umas, ela deixou passar por opção; e outras, por medo ou porque não estava preparada.
O interessante é que na medida em que ela refletia sobre isso, não sentia pesar pelos erros e faltas do passado. Não faz muito tempo ela entendeu que as oportunidades perdidas não precisavam ser desperdiçadas, porque com elas, a gente, se quiser, aprende.
Assim, firmou, consigo mesma, um único compromisso: fazer o melhor que puder em cada momento (como diz aquela poesia do Fernando Pessoa*). Desde então, conta saldada.
A propósito, a foto que acompanha o texto, foi feita no dia seguinte. A máquina fotográfica não fica mais no carro.
*próxima postagem
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Natal + Reveillon
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Narradora

"Já acordei pensando em você. Como bem sabe, aniversário está entre as minhas comemorações prediletas. Pra mim, sempre foi uma combinação de natal e reveillon: natal, como memória da chegada e agradecimento pela presença; reveillon, porque é uma virada, vá lá que não é como a que acontece no dia 31, em conjunto e com caráter global, mas é uma virada pessoal, um ano novo particular. Eu sei que você não gosta de festa de aniversário, mas com certeza hoje é churrasco...
Você vive dizendo que foi minha cobaia em algumas coisas, você está certo (em parte, é claro...rs), principalmente no que diz respeito a essa função de irmã mais velha, então releve certos exageros meus. Falando nisso, deixa eu te contar uma coisa, de uns tempos pra cá, quando acham que você é mais velho que eu, não estou mais corrigindo... mais uma coisa pra você relevar...rs
Bom, desejo que você tenha uma vida longa e plena. Um beijo e até mais ver."
Amarelinha
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Narradora

Do outro lado da rua, crianças pulavam amarelinha usando um plástico colorido que trazia o desenho impresso - uma espécie de "amarelinha nescafé".
Ela assistia a algazarra lembrando do seu tempo de protagonista. Quando também brincava de amarelinha; andava pela rua, passando a mão nos muros chapiscados até ela ficar bem lisa; pulava com os dois pés nas poças d'água; colocava barcos de papel na enxurrada e passeava de bicicleta buzinando com a boca.
Lá do outro lado houve uma interrupção. Três meninas atravessaram a rua chateadas porque a dona da amarelinha teve que ir pra casa, acabando com a brincadeira. Foi aí que ela percebeu que elas não conheciam outro tipo de amarelinha, só a "nescafé".
Solidária, levantou e começou a procurar um pedaço de telha, tijolo ou alguma pedra arenosa com que pudesse riscar o chão. Escolheu um lugar na calçada, próximo de onde as meninas se reuniam e pôs mãos à obra. Curiosas as crianças se aproximatam e logo perceberam no desenho, o brinquedo perdido. Animadas perguntaram se podiam ajudar e depois brincar também.
Ela, surpresa, porque não pretendia brincar, só "entregar" o desenho pronto, aceitou de bom grado a ajuda e a idéia. Instantes depois, quatro meninas riam e pulavam amarelinha, na calçada, num fim de tarde, numa pequena cidade do interior, perdida no tempo.