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domingo, 1 de novembro de 2009

Mais uma dança


Durante esses dias não era exatamente a falta de sol que incomodava, mas um cinza inoportuno, uma ausência de azul, a opacidade numa monotonia de lentes empoeiradas.

...

Finalmente um intervalo.

Cedo o céu se estendeu aberto e vasto, ela olhava de um lado a outro e era tudo imensidão. Uma oportunidade para levar a alma para passear, ela que com esse tempo de recolhimento já cheirava a guardado.

Quem sabe depois de arejar a casa as palavras voltem a dançar com ela...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Todas as cartas de amor são ridículas..."

Eu lhe disse que sou fácil, tenho gosto pelo simples, ele que me encanta. Um feriado de sol morno e pronto, já acordo sorrindo.
Dia bom para passeio de bicicleta com trilha sonora – acho que tudo fica mais interessante com trilha sonora.
Descobri uma música que é a cara de hoje: ensolarada e alegre, chama me haces bien, de um urugaio, Jorge Drexler.
Então, nessa manhã de domingo em plena segunda-feira, em primeira pessoa, quero lhe contar que você me faz bem e, simples assim, eu amo você.



Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor
É que são ridículas
(Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos)

domingo, 16 de agosto de 2009

Ela desejava morar naquele momento.
Bem incomum realmente, mas não era um lugar que ela queria ter por lar, e sim um instante, um espaço no tempo.
Não, ela não tinha a intenção de morar numa lembrança, como as pessoas que se perdem em memórias. E nem queria visitar esse tempo, como se faz quando olha uma fotografia, que a gente volta naquele lugar-momento, mas só com o pensamento.
A vontade dela era de tornar elástico o tempo e ir esticando com muito cuidado pra ele não se partir. Aí então o pra sempre seria sempre agora.




http://6am6o0om.deviantart.com/art/Walking-Back-Home-59101543

domingo, 9 de agosto de 2009

Já tinha dias que a lua vinha emagrecendo, devagar ia pintando a noite de preto e ressuscitando as estrelas.

Já era tarde e pela fresta da porta, um vento de assovio definia agosto.

Ela carregava uma alma antiga e naquela noite vivia um momento vintage: sentada no chão com as pernas encolhidas, olhava pro céu, ouvindo Etta Jones que girava num toca discos antigo.

At last my love has come along
My lonely days are over
And life is like a song

Não havia nostalgia no sorriso da moça de coração dançarino, só aquela sensação... At last

A imagem: http://lar-dog.deviantart.com/art/Long-Play-115238094

A música: http://www.youtube.com/watch?v=ADDigK8LwyE

domingo, 2 de agosto de 2009

Mais de mil metros acima do nível do mar e ela era toda praia em fim de tarde. Tinha acordado assim, simplesmente discordando de como as coisas eram...

O céu não devia estar tão cinza, cor incompatível com as cambalhotas do seu coração. Afinal alegria era pra ser colorida.

Embora a maioria das casas ainda estivesse de olhos fechados, pegou sua bicicleta azul e o seu chapéu vermelho e foi fazer movimento.

http://ultraviolett.deviantart.com/art/the-bike-79651743

domingo, 19 de julho de 2009

Um dia atípico de inverno: o céu azul tatuado de nuvens esticadas e ralas e um sol fraco, mas esforçado. Ao acordar sempre abria a janela para espiar a moldura do dia e esse era o seu tipo predileto. O calor quando a expectativa era de frio; o azul substituindo o cinza; pessoas na rua tirando o bolor dos sorrisos.

Mesmo se esforçando para viver o hoje, os domingos sempre funcionaram como uma espécie de pré-segunda: a semana começando, um monte de coisas pra resolver... Mas não dava pra ficar imune ao hoje, afinal estava diante de um domingo de sol bem no meio do inverno.

No vizinho o som alto, como de costume - Rhythm and Blues - entrando grave pela janela: “I Love you baby, but I’m not in the mood”.

Hey baby, no meu caso, I’m so in the mood.



http://hauntedhome.deviantart.com/art/is-this-61234425

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ela acordou cedo, tirou a tramela da porta e entreabriu as janelas. A vontade era de escancará-las, afastando as cortinas e deixando entrar tudo que o dia tinha a oferecer: vento, sol, chuva, visita, poeira...

Mas aquela não era a sua primeira vez, devia ser mais comedida. Devia mesmo? Já não sabia.

Talvez fosse melhor não assustar os minutos, justo por isso decidiu andar devagar pelo assoalho de madeira. Passou o dia fazendo o de sempre, mas com o coração a lhe balançar as têmporas.

A manhã virou noite, a segunda voltou a ser domingo, o tempo ajudou e ela se acostumou a viver sem trancas. O coração já não batia em desassossego, tinha uma cadência boa que lhe embalava os dias.

Sorrisos escapuliam pelos cantos da boca, ela tinha feito do corpo uma casa clara. Numa manhã que era mesmo feito as outras, ela levantou tão leve que seus pés mal tocavam o chão e foi nesse dia que o amor lhe tirou pra dançar.

http://misspaperclip.deviantart.com/art/cherry-blossom-girl-81564447

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Let it be

O amor dormia em sono solto, pernas misturadas em corpos justapostos. A respiração calma marcava o compasso dos sonhos que desfilavam pelos olhos dela, como slides na parede branca do quarto.

Uma alegria mansa se espalhava pelo seu corpo, enquanto réstias de luz se esticavam ultrapassando a persiana. Aos poucos os sons vindos da rua iam sendo substituídos pelo silêncio, até só restar o apito do vigia para lembrar a existência de um mundo fora dali.

Foi nesse movimento de sensações que ela percebeu que estava vivendo o pra sempre.

Talvez o maior desafio consista em parar as buscas e se deixar ser-estar para poder reconhecer a felicidade.




quinta-feira, 7 de maio de 2009



Da última visita, quase trinta dias...
Tantos passos andando na beirinha da tarde, usando a noite por coberta e abrindo sóis ao amanhecer.
Respostas que não serviram de epitáfios, mas de portas por onde saíram novas perguntas, retomando buscas e redesenhando o caminho.
A vida seguindo maior do que a realidade parecia permitir, enchendo tudo de tinta, feito luz que inventa imagem em negativo, feito a minha mão na sua.

domingo, 19 de abril de 2009

Faz tempo que as estações do ano não obedecem calendário.
O verão daqui só acabou nesse fim de semana e mesmo assim foi indo aos poucos, hesitante. O certo é que o domingo amanheceu visitado por um sol irresoluto.

Ela também virou manhã com o mesmo ânimo do sol, indecisão de cama boa.

Muito tempo de silêncio, mas sem a gravidade dos grandes pensamentos. Só falta de tempo... Só excesso de coisas...

Os dias correndo, uns atrás dos outros: amanhã virando ontem, assim, de repente.

Numa vontade de parar um pouco e sentir o chão, ela puxou seu braço e encaixou a cabeça na curva do seu ombro...

Pronto, lançou âncoras.

domingo, 5 de abril de 2009

E ela ficou lá em silêncio.
Enquanto rolava o lápis pela folha, ficava olhando para dentro toda concentrada, chamando pensamento.
Demorou naquela posição, insistindo em procurar tema, até que compreendeu que idéia é igual fruta de antigamente.
Tem época de jaboticaba, época de amorinha preta, época de ingá e época de idéia.
...
Ops! Parece que é entressafra.

http://nonnetta.deviantart.com/art/Taking-care-of-precious-things-118180600

quinta-feira, 12 de março de 2009


Será tempo de janelas abertas e sorrisos amplos, com o vento-criança brincando de pique e fazendo bagunça pela casa.
Na noite quente de céu limpo, subirá uma lua de suspiros e devaneios. Cheia, brilhará inteira, inundando a sala.
Uma música conhecida, daquele tipo que embala os sonhos, far-se-á presente acalmando a memória e encantando a gente.
E no espaço de um abraço caberão estrelas e galáxias, o mundo de enorme será pequeno, sem excesso ou falta, exato. Contido entre a minha boca e o seu beijo.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Em dias assim ela afasta o tempo com as mãos como quem desliza cortinas. Nesse momento encontra a ausência e ouve o baticum do peito contrariado, que faz birra.
Na bagunça da gaveta, alcança o envelope velho, rasgado nas pontas e estufado de letras. Com cuidado desdobra cada uma das cartas, sentindo, no papel, a lembrança daquelas mãos que prefere ter na pele.
As recordações giram como num toca-discos antigo, que reproduz um passado chiado, que já não corresponde ao que foi, mas à memória daquelas palavras que hoje, sorriem sépia.
Por isso, quando as frases se mostram, riscam as paredes de vermelho e enchem tudo de falta.
É uma interação no pretérito que por ser presente é imperfeito. O incompleto transborda e então, saudade...
Notícias de última hora!
Bom, então tem o Meme da Amanda...
São oito coisas pra fazer antes de morrer:
Oito (8) é um infinito () em pé...
Ultimamente tenho tido muita vontade de infinito e ficado muito à vontade com ele.
Por isso, sendo esse 8 uma outra posição que limita a minha hiperólica personalidade, com o rosto carmim, peço licença à minha querida historiadora para continuar rodeada de infinito.
Beijo.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

"Descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais..."


Ao som da música ela piscava, arrumando o foco dos olhos, ainda pouco acostumados com a claridade. A cada passo, seus pés descalços sentiam a idade das tábuas do piso.

"Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem a sede que morre no seio
Nota que fermata quando desafino."

No final do corredor a luminosidade se fez plena, forçando-a a proteger os olhos, usando a mão por viseira.
As janelas abertas de amplo verão convidavam o sol, que todo à vontade riscava o chão com seus braços de luz.
Vez por outra, um ventinho entrava e tirava as cortinas pra dançar, aproveitando a música que vinha da varanda. Bastou um instante pra sua camisola branca também aceitar o convite do vento.

"Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá"

Sonolenta e ainda com os cabelos despenteados, a moça continuou o caminho até a porta.
A varanda era grande e depois dela vinha um jardim com barulho de água de aspersor. Mais um passo e o chão de um frio-lajota gostoso; lá no canto, uma rede de algodão cru.

"Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso"

O encanto vinha de lá, da música que repousava na rede. E ela tomada por esse pedaço de pra sempre quis ver de perto, quis ter à mão.
Continuou andando e quando viu a rede ocupada, entendeu o abrigo que procurava e sem cerimônia , como se faz ao chegar em casa, descansou no peito do seu bem.

"Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito..."

PS: Rê, valeu pelo selo! Fiquei toda, toda. :)

O título e os trechos fazem parte da música Sonho de uma flauta - O Teatro Mágico.
Foto:http://wackycracka.deviantart.com/art/Lay-With-Me-12457751

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Era maré baixa de lua cheia, ela tinha a impressão de que podia caminhar horas sem tropeçar em outros pensamentos que não aqueles que ia, aos poucos, espalhando pela areia.

Ali, diante do mar com seu movimento constante de mudança certa que fechando ciclos trazia uma confortável estabilidade, parecia mais fácil catalogar futuros.

Caminhando na linha d’água, com o sol morno nas costas e um vento travesso brincando com as abas do seu chapéu, a gravidade dogmática das escolhas definitivas se perdia na fluidez da espuma que a cada onda desenhava um novo caminho.