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domingo, 7 de novembro de 2010


Quebra cabeça de destino é meio complicado de montar.

Não tem caixa com desenho, e como se não bastasse, as peças não são apresentadas de uma vez, algumas custam muito a aparecer. Aí já viu, nem dá pra ter uma idéia da paisagem: pode começar puro deserto e, lá pelo meio, aparentar coisa de oceano. O jeito é amansar a curiosidade e continuar, sem certeza mesmo - aqui certeza não é importante, é bem mais uma questão de acreditar do que de saber.

A construção é cheia de intervalos forçados. Umas vezes acontecem por conta de peças sumidas, nesses casos, tem hora de buscar e hora de seguir: difícil mesmo é saber por qual das alternativas optar. Noutras vezes, as peças não cabem direito ou por estarem empenadas ou por faltar uma beirinha, aí o caminho é o da paciência, pra desentortar e fazer nascer pedaço. Ta certo que não vai ficar igualzinho, mas também quem tem que ficar homogêneo é crème brûlée.

Não se produz realidade com matéria de sonho em linha de montagem, lá é lugar de fazer capa de chuva e bicicleta. Destino sob medida é descoberto aos poucos e construído com um certo cansaço, um bom punhado de alegria, umas pitadas de surpresa e um pouco de brisa, afinal, todo mundo merece um tiquinho de delicadeza.

domingo, 19 de setembro de 2010


E foi assim, com a beleza das coisas que simplesmente acontecem porque é tempo...

Sua mão descobriu a minha e puxou um abraço. Na cadência suave dos seus gestos, minha alma encontrou o caminho de casa. Sua boca, vizinha do meu ouvido, deixou o coração cantar, bem baixinho, uma música de ser feliz. Um sorriso harmonizou seus passos no meu caminho, quando seu braço escorreu pelas minhas costas.

Ali, na cozinha pequena, esteve o pra sempre. E, no abraço dançarino, coube toda alegria do mundo.


Vezemquando é possível voar...


domingo, 29 de agosto de 2010


Depois de semanas de meias e cachecol, abriu as janelas e deu de cara com um hiato: céu azul, nuvens brancas e sol amarelo quente, simples assim, feito desenho de criança.


Cenário perfeito para levar a alma para passear, e ela, depois de dias encolhida, aceitou dançar com a brisa. Pulando uma amarelinha velha, tatuada no asfalto com tijolo vermelho, embalou os sonhos, arejou os pensamentos e preparou o sorriso de bom dia.


... Enquanto isso, o domingo passava de bicicleta, cheirando a pão de queijo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010


Tem gente que espera sempre vida com vista para o mar, vez em quando ela também é assim, quer o encaixe fácil das peças grandes, e mesmo envergonhada, tem que admitir seus momentos de uma birra (nem sempre) discreta.

Mas já viu coisa mais engraçada que adulto de bico? Tem o sem jeito das coisas fora de lugar, feito roupa encolhida ou novidade de ontem... Aí, com ela, o bico, quando cai na real, vira muxoxo que vira sacudidela de cabeça que vira sorriso que nasce meio torto e que vai aprumando até se acertar.

É que no final das contas, mesmo quando não dá pra mudar a paisagem, ainda é possível escolher o enquadramento, é só uma questão de janela.

quarta-feira, 7 de julho de 2010


Acordou com sorriso arreglado feito o sol pirracento que esquentava aquela manhã, desafiando o inverno.

Optou pela leveza, talvez não durasse muito, conhecia a força da correnteza dos dias, mas hoje queria mesmo era viagem de vento.

Ganhou a rua com a alegria de presente esperado e saiu para colher flores de papel crepom.

sábado, 26 de junho de 2010

Era dia de chegada: a ausência que pintou tudo de cinza logo ia se dispersar. O sol apareceu fraco e fazia frio, mas só do lado de fora da moça.




Ela levantou bem mais cedo que o costume e com cuidado lavou a alma, tirando todas as marcas da saudade; secou os cabelos e molhou a boca; bem devagar espalhou alegria pelo corpo e só se deu por satisfeita quando todo ele sorriu; com as mãos macias de ternura, acalmou o coração-zabumba; e, perfumada de desejo foi para a janela, gastar o restinho de espera que ainda trazia no olhar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Das lacunas não preenchidas das frases, do conjunto formado por todas elas, é fabricado o silêncio-espinho. E ele atravessa a pele e grita pelos olhos, incômodo e desajeitado feito um carinho áspero, ele é uma espera sem fim, é uma quasepalavra que natimorta nunca vem. Cada intervalo vazio de sons, nessa condição equivocada de estar calado, é um tijolo. E eles juntos, numa espécie de sinfonia às avessas, fazem um muro que de tão sólido é invisível.
Não quero os nossos minutos preenchidos por esse silêncio histérico que turva a vista e pesa nos ombros.
Minha vontade é do seu sorriso vagalume que de pontinho em pontinho apaga o escuro e alumia tudo. Não preciso de um amorarmadura, prefiro a confusão das linhas das nossas mãos que num mapa maluco mostra um infinito de possibilidades. Careço mesmo é do calor do seu abraço e da cadência do seu coração para dissolver minhas olheiras.



http://equivoque.deviantart.com/art/untitled-portrait-73335961

domingo, 18 de abril de 2010

Depois de uma semana pintada de um cinza aperreado, amanheceu um céu quase aberto, um sol quase quente, um amarelo quase brilhante.

É certo que usualmente o quase produz a estampa pálida da incompletude, mas não naquela vez. Da janela, o por um triz evitou o ponto continuativo no clima-tempo: aquele quase céusolamarelo fez ponto parágrafo.

Nada contra o outono, ela não se indispunha com as estações e suas marcantes (e mutantes) características, até tomou a liberdade de pegar um pedacinho das quatro e colocou um em cada bolso do jeans. Mas sabe o que é? Vez em quando sente a urgência de um ponto parágrafo para poder seguir adiante.

Mas a vida tem dessas delicadezas: na hora certa encerra a linha e muda o assunto.




http: //lucem.deviantart/art/one-step-58080298

domingo, 11 de abril de 2010

A noite lhe pesava os ombros, produzindo um andar arrastado de chinelas no chão.

Palavras, ainda não formadas, permaneciam atravessadas entre os dentes, traves tortas estorvando a fala.

No olhar conjugava atrito e faísca.

Os braços já não construíam pontes.

Entre as mãos fechadas, jaziam abismos com gosto de lágrima e madrugada.




http://amanda-oliveira.deviantart.com/art/polaroid-in-me-103934748



segunda-feira, 15 de março de 2010

"Invadiu-me a casa, me acordou na cama, tomou o meu coração e sentou na minha mão..."

Numa espécie de feriado particular, acompanhou, abraçada aos joelhos, o enrolar calmo das horas que se sobrepondo, iam formando o novelo do dia.
O quarto continuava numa desordem mansa, melhor dizendo, numa ordem revolucionária: Aos montinhos, o amor seguia se acumulado nos cantos; alguns abraços ainda descansavam aos pés da cama, ali, logo ao lado dos lençóis amarrotados; uns beijos perdidos continuavam esquecidos entre os travesseiros; as alegrias, assim que acordavam, iam rolando pela cama e escorregavam pelo chão; palavras soltas enfeitavam as paredes; e sorrisos estalavam com o sol.
Era bem como diziam os velhos-Novos Baianos "Acabou chorare, ficou tudo lindo, de manhã cedinho..."

terça-feira, 2 de março de 2010

Choveu o dia todo: torós e chuviscos se alternavam como crianças numa gangorra. No fim da tarde, cansados da brincadeira, foram embora, deixando no asfalto várias poças de diversos tamanhos e formas. Elas ali deitadas, eram espelhos que espalhavam no chão uma quantidade bonita de pedaços sortidos de céu.

Na porta da rua, a menina sorria enquanto pulava de nuvem em nuvem, pensando que são muitas as formas de voar.


http://hauntedhome.deviantart.com/art/cabeca-nas-nuvens-72639085

domingo, 28 de fevereiro de 2010

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.”
Guimarães Rosa


Essa inquietação do amor faz da minha prosa um completo clichê.

Vendaval que embaraça meus pensamentos e anuvia minha vista, converte espelho d’água em mar revolto. Poderosa, muda o ritmo das horas e afasta o meu sono e bane o meu sossego. É justo no meio dessa bagunça que você reaparece.

Um meio sorriso que logo vira inteiro e ilumina tudo e me faz entender Guimarães Rosa: num abraço, descanso minha loucura no seu ombro.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um vento áspero afasta as nuvens deixando à vista um sol cinza que já acorda torto e sobe tropicando para um canto do céu.

Ela também levanta pelo avesso, com o coração amuado e a alma amarrotada. Apesar da teimosia das pernas que insistem em permanecer inertes, vai até a cozinha. Cheia de adjetivos, suas olheiras não combinam com o café frio e, definitivamente, dor de amor não rima com segunda-feira.



http://ultraviolett.deviantart.com/art/goodbye-73416732

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sabe aquelas pessoas cheias de teorias e idéias mirabolantes? Então, a menina era bem assim, achava um monte de coisas e tinha um firme propósito de controlar o tempo.

Gostava de tirar foto de todo momento bonito: achava que congelando ele ali, não corria o risco dele escapar.

Ficava acordada até bem tarde da noite, os olhos chegavam a ficar vermelhos e ardendo: achava que assim esticava as horas e segurava o dia.

Quando gostava de um cheiro, respirava bem fundo: achava que assim ele ficava guardado dentro dela pra sempre.

Na verdade a menina tinha medo quando a vida corria solta, ela queria mesmo era ter a certeza das rédeas. Mas como era de se esperar, o tempo não foi obediente e a menina cresceu.

É certo que ela ainda tem medo quando tudo é montanha russa, mas aprendeu a respirar devagar pra controlar o coração. Quando não dá certo, fecha os olhos bem apertados e abre os braços aceitando o vento e a vertigem.

http://light-from-emirates.deviantart.com/art/imagination-144638335

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Se equilibrando na guia do passeio, tropeçava em horas e saltava os dias. Andando assim, meio distraída, lia a vida com seus óculos de uma perna só.

Seguindo nessa toada, sem saber precisar direito o momento, ouviu um barulho que mais parecia o farfalhar de grama alta. Ficou intrigada porque ali não tinha vento ou folha, nada que lhe justificasse o ouvido.

Bem sei que pode parecer bobo para uma pessoa não acostumada a devaneios, dar atenção logo para uma coisinha dessas... Meio estranho, mas não para ela que era uma colecionadora de pequenos eventos.

Com os olhos estreitados de quem sonha com cuidado procurou a origem do som e deu de cara com um sorriso branco e aberto. Por susto ou timidez, o rosto, casa daquele sorriso, se pintou de cor de rosa e ficou ainda mais bonito de olhar.

Naquele acontecimento viu um evento colecionável e retribuiu o sorriso. Nesse mesmo instante, ouviu novamente o barulho e, por fim, entendeu: o ruído baixinho que parecia ser do vento dançando com as folhas, era na verdade o som dos pelos levantando em arrepio.

Um coração pressente quando encontra sua outra casa, isso agora ela podia contar.





sábado, 30 de janeiro de 2010

Com o computador ligado olhava para o outro lado. Reparava curiosa que todo efeito dependia da posição da luz, não era a coisa em si que importava, não era exatamente o objeto que ela via, mas a imagem composta de faces expostas e sombras.

As palavras não escorriam, não era mais chuva como antes. Em tempos de estio, letras não caem das pontas dos dedos e os olhos desacostumam de pensar teclado, por isso evitava o monitor vazio e olhava para fora querendo rever o que tinha tatuado por dentro.


Pela janela, o verão entrava seguro e convidava a moça para passear, bem difícil para o monitor competir com um azul de abrir horizontes. E como era mesmo para ser, ela saiu, deixando o computador ligado, foi catar palavras no meio das conchas e dos sorrisos, seguindo a brisa que trazia de longe um cheiro de mar.

http://addy-ack.deviantart.com/art/Summer-feeling-151085247